
A Rainha de Sabá, por Charles Gounod.
No Ocidente, a ideia de uma mulher ser poderosa é geralmente marcada por ressentimentos e medos. Embora na Bíblia ou na Grécia antiga, mulheres tenham sido retratadas como fortes ou heroicas, foram também consideradas ameaçadoras e destrutivas. Tal ideia, ao longo dos tempos, corroeu a possibilidade de existência de relações amorosas satisfatórias baseadas no respeito mútuo. O verdadeiro poder feminino não é a capacidade de manipular ou seduzir. O poder feminino mais doa do que toma; mais ama e mais compartilha.
Makeda, que em seu idioma significava “a ardente”, foi uma rainha-sacerdotisa devotada a uma deusa do sol que iluminava o povo de Sabá com sua alegria, sabedoria, benevolência e abundância. Em Sabá, a mulher ocupava a mesma posição do homem, tendo o direito de escolher seu marido e até mesmo ser eleita soberana. A grande rainha, em sua época, foi soberana de um território que ia pelo menos da Etiópia ao Egito, e também incluía o Iêmen e a Península Arábica.
A rainha-sol ardente reinava com humanidade, luz e amor, e eles eram possuidores de todo tipo de abundância: amor, felicidade, fertilidade e sabedoria, além de muito ouro e pedras preciosas. Eles nunca duvidaram da existência da abundância e por isso nunca lhes faltou nada. Era o povo mais próspero e virtuoso que havia; conhecedores dos segredos dos astros, dos números e amantes da literatura. A fragrância de seus famosos incensos perfumava tudo com um aroma doce e delicado, enquanto poesias e canções floresciam em seu generoso reino.

“A Visita da Rainha de Sabá ao Rei Salomão”, de Edward Poynter
Eis então, que o grande rei Salomão, ficou sabendo da sábia rainha ardente que os profetas de seu reino diziam ser sua igual e contrapartida. Em Sabá, a sabedoria de Salomão era lendária e os profetas tinham previsto que Makeda um dia viajaria para longe a fim de conhecer o rei com quem cumpriria o hieros-gamos, o casamento sagrado que combinava o corpo com a mente e o espírito no ato da divina união.
Makeda, a rainha de Sabá, chegou a Israel com uma enorme caravana de camelos como ninguém jamais tinha visto igual, levando especiarias, muito ouro e pedras preciosas para presentear o rei Salomão.
Salomão ficou deslumbrado com a beleza e sabedoria de Makeda e totalmente desarmado diante da sua honestidade: a base da verdadeira intimidade. Uniram-se então, no hieros-gamos, o casamento espiritual, num lugar de confiança e de consciência, porém não se tornaram consortes, pois eram iguais, cada um soberano do próprio território e do próprio destino.

Relevo renascentista da rainha de Sabá se encontrando com o rei Salomão – parte do portal do Batistério de Florença.
Inspirado e renovado pelo amor de Makeda, Salomão escreveu o mais sagrado Cântico dos Cânticos, que encerra os segredos do hieros-gamos e de como Deus é encontrado através da união dos amantes. Makeda nunca foi esposa de Salomão pelas leis dos homens, mas foi sua única mulher pelas leis da natureza e de Deus, leis do Amor.
Dessa união de confiança e consciência, nasceu Menelik, o primeiro imperador da linhagem sagrada da Etiópia.
Ruínas encontradas em Aksum, uma cidade sagrada da Etiópia, atestam o esplendor de Sabá, o país das mil fragrâncias perdidas no tempo.
Sentir Sabá é bem melhor do que questionar sua mitificação ou negá-la, julgando sua existência. Sentir Sabá é entrar em contato com nosso masculino, feminino e social sagrados – sacramentados pelo amor divino.
Para aqueles que podem ouvir. Que ouçam.
Para saber mais:
– Em Busca de Mitos e Heróis – A Rainha de Sabá (Documentário BBC)
– Sabá, o País das Mil Fragrâncias. VON SASS, Roselis.