
Ariadne, de Marion Herrmann
Ariadne era uma princesa da família real de Creta, filha do rei Minos e da rainha Pasifae. A princesa de Minos era famosa por sua beleza radiante, clara e brilhante, sendo considerada “completamente pura de espírito e coração”. A pura Ariadne era discípula de Afrodite, a deusa do amor.
O Minotauro era um grande monstro, metade homem, metade touro, e tinha o apetite de dez animais. Nascido na família real de Creta, o Minotauro era meio-irmão de Ariadne, filho de um touro sagrado (sacerdote representando o sagrado feminino) e da esposa do rei Minos, a rainha Pasifae (sacerdotisa representando o sagrado feminino).
O rei, tomado de temor e ciúmes, chamou então, Dédalo, o construtor, para criar um labirinto que, uma vez lá dentro, fosse impossível encontrar a saída. O labirinto foi muito bem planejado de forma que a criatura pudesse viver isolada no centro do labirinto. O Minotauro exigia a cada nove anos o sacrifício de sete donzelas e sete rapazes, a serem enviados ao centro do labirinto para saciar sua fome mortal.
Chegada a hora de Atenas enviar os seus inocentes para o sacrifício no labirinto do Minotauro, Teseu, o filho mais novo do rei ateniense ofereceu-se para ir como o primeiro dos catorze sacrificados. O jovem belo e heroico estava determinado a enfrentar o Minotauro e matá-lo, salvando, assim, a vida dos outros e livrando o povo daquele terror.
Dizem que quando a princesa Ariadne avistou Teseu, ela imediatamente se apaixonou por ele. Ariadne planejou então, um encontro secreto com Teseu na véspera da cerimônia do sacrifício para revelar a seu amor os segredos de como matar o Minotauro e sair do labirinto.

Ariadne, de John William Waterhouse
Ela fez um novelo com os fios de seu próprio cabelo sedoso; teceu fios mágicos que serviriam de guia para ajudar seu amante a escapar do labirinto. Ela também lhe deu de presente uma espada milagrosa, que fora forjada para o deus do mar Poseidon, feita de prata e ouro para representar a luz do sol e da lua refletida no mar. Ariadne sabia que aquela arma mataria seu meio-irmão sem causar-lhe nenhum sofrimento.
Dizem que Ariadne e Teseu uniram-se com paixão naquela noite, com confiança e consciência. Ao fazer isso, ela o protegeu com o poder puro do seu amor. Teseu não falharia.
Na manhã seguinte, quando era levado para dentro do labirinto, Teseu amarrou a ponta do fio de Ariadne num anel de ferro na entrada do labirinto, e foi desenrolando o novelo à medida que caminhava pelos túneis até o deus-animal. Tarefa cumprida, o herói voltou pelo caminho que entrara e saiu do labirinto seguindo o fio de Ariadne, chegando são e salvo à entrada e aos braços de seu novo amor.
Celebrado como destruidor do Minotauro e libertador de seu povo, Teseu, parte de Creta levando consigo sua amada Ariadne. Porém, ao pararem numa ilha para uma noite de comemoração e para pegar provisões para o retorno à Atenas, o deus Dionísio, ébrio de vinho, apareceu na ilha para se apossar de sua noiva. Ariadne tinha sido prometida pelo rei, pai dela, e era dele por direito, pela lei divina e humana.
Teseu acreditou que, se resistisse a Dionísio, o deus provavelmente levaria Ariadne à força e castigaria a ela e aos atenienses. Então, com um peso enorme no coração, Teseu abandonou sua Ariadne, deixando que ela ficasse com Dionísio.
Mas foi pela força sagrada do amor que uma mudança milagrosa aconteceu no deus Dionísio. Tão apaixonado estava pela bela e pura Ariadne, que não suportava vê-la tão angustiada. Ele não a tomou à força. Em vez disso, concordou que só a possuiria quando ela concordasse em ser sua esposa por livre e espontânea vontade. Com preces para Afrodite, a personificação de todo o amor, Ariadne compreendeu que Teseu teria lutado por ela se realmente sentisse no seu coração que ela era sua única amada. O fato de Teseu não ter feito isso significava que ela precisava esquecê-lo.
O amor que não é correspondido em medida igual não é amor, não é sagrado. E apegar-se à idealização de tal sentimento pode nos impedir de encontrar aquele que é verdadeiro.
Um dia Ariadne aceitou desposar Dionísio, e os dois viveram felizes eternamente, como parceiros verdadeiros e iguais no hieros-gamos, a união sagrada. Foi então que Ariadne encontrou o amor real, com o amado que tinha de fato lutado por ela.

Planta do labirinto da Catedral de Chartres, na França.
Teseu, por sua vez, só fez lamentar a perda de Ariadne e se arrependeu da fraqueza que o fez tomar a terrível decisão de abandoná-la, até o fim de seus dias. Em honra daquela que agora era uma deusa, ele criou um templo em seu nome em Amatus. Com a estátua de Afrodite que Ariadne levara com ela ao sair de Creta, ele erigiu uma construção que chamou de Templo do Amor e a dedicou a Ariadne-Afrodite. Dentro do templo construiu um labirinto que se tornou o símbolo do amor e da libertação, uma dança rítmica que representava a celebração de uma união divina foi criada para o festival anual em homenagem a Ariadne; a festa da Dama do Labirinto que venceu a escuridão com seu amor. O novo labirinto foi concebido como um lugar de alegria, com um único caminho em espiral que levava até o centro e de volta à saída. O labirinto não seria mais o lugar em que almas humanas se perderiam. Para todo o sempre, seria um lugar onde o espírito humano podia ser encontrado. Um lugar para celebrar o que é ao mesmo tempo humano e divino em todos nós, depois que aprendemos a matar os minotauros que vivem dentro de nós, com a crença no poder do amor.
Para aqueles que podem ouvir. Que ouçam.
* Lenda extraída de “O Livro do Amor”, de Kathleen McGowan.