Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena nasceu em Viena em 22 de janeiro de 1797; filha da Casa de Habsburgo, uma das dinastias mais antigas e importantes da Europa. Vinda de uma ancestralidade feminina poderosa, era bisneta de Maria Teresa, a Grande, e sobrinha-neta de Maria Antonieta, rainha da França.
Leopoldina e seus irmãos foram educados segundos os princípios de seu avô paterno Leopoldo II, que pregava a igualdade entre os homens, tratando a todos com cortesia, a necessidade de praticar a caridade, e acima de tudo, sacrifício dos próprios desejos em nome das necessidades do Estado.
Conviveu com os intelectuais da época e falava alemão, francês, italiano, conhecia latim e aprendeu rapidamente português. Alma sensível e curiosa, ainda tocava piano lindamente e era talentosa na pintura, mas a arquiduquesa gostava mesmo é de mineralogia e botânica; colecionava pedras e coisas referentes às ciências naturais.

Imperatriz rainha D. Leopoldina, de Joseph Kreutzinger.
Com a derrota de seu pai contra as tropas de Napoleão, Leopoldina viu sua irmã mais amada Maria Luísa ser entregue em casamento ao inimigo; o mesmo Napoleão que compeliu a Família Bragança a fugir para o Brasil. Em 1817, a vida de Leopoldina transforma-se completamente quando casa-se por procuração em 13 de maio com Dom Pedro, príncipe herdeiro do trono do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve.
Contrário do que pensa-se, o casal realmente gostou-se, e apesar das diferenças, viveu com grande companheirismo durante os primeiros anos de casamento. Pedro amava cavalos e Leopoldina era exímia amazona; assim passavam longas horas, cavalgando juntos pela Floresta da Tijuca – que existe ainda hoje graças a esforços iniciais dela. Leopoldina também tocava piano junto com Pedro, que era um ótimo músico.
Em 1819 nasce a primeira filha do casal, Maria da Glória, futura Maria II de Portugal. A paz conjugal durou pouco, no entanto, devido a intempestiva personalidade de Pedro e seu inquieto comportamento sexual.

D. Maria Leopoldina e seus filhos, por Domenico Failutti.
A impecável formação intelectual e política de Leopoldina aliadas a seu forte senso de dever e sacrifício em nome do Estado foram fundamentais para o Brasil, especialmente depois que Dom João VI, sob pressão portuguesa, decide voltar à Lisboa. Pedro tinha apenas 23 anos quando seu pai voltou a Portugal e por influência de Leopoldina e José Bonifácio decide ficar no Brasil, no que ficou conhecido como o “Dia do Fico”.
Leopoldina teve 9 gestações em 9 anos. Perdeu dois meninos amados e sofreu dois abortos. Teve 7 filhos no total: Maria da Glória, Miguel, João Carlos, Januária, Paula Mariana, Francisca e Pedro. Seu corpo não tinha tempo para se recuperar entre uma gestação e outra, especialmente porque, mesmo em avançado estado de gestação, participava ativamente nas decisões políticas com o marido.
Fazia visitas semanais aos hospitais e costumava visitar doentes em suas casas de forma anónima. Plena de bondade e doçura, vendia cavalos, joias e outros pertences pessoais para financiar médicos e outras necessidades daqueles que a procuravam pedindo auxílio.

Maria Leopoldina regente, de Georgina de Albuquerque.
Junto ao ministro José Bonifácio, Leopoldina trabalhou arduamente de forma a viabilizar a autonomia política do Brasil e amenizar os efeitos da escravidão. Foi a idealizadora da “lei do ventre livre”, trabalhando ativamente pelos direitos das mulheres, escravas ou não. Notando que era muito conveniente aos homens continuar não educando as mulheres brasileiras, interviu junto ao sogro para fundar a Escola de Belas Artes, e anos depois a primeira Escola Normal de formação de professoras.
Em 2 de setembro de 1822, Leopoldina como chefe do Conselho do Estado e Princesa Regente – Dom Pedro encontrava-se em viagem apaziguando os ânimos em Minas Gerais e São Paulo desde 13 de agosto –, recebeu notícias de que uma esquadra portuguesa estava sendo preparada com ordens terminantes de levar Dom Pedro de volta a Portugal. Diante de uma decisão unânime do Conselho de Estado, a princesa assinou o decreto que separou definitivamente o Brasil de Portugal. Como era austríaca, José Bonifácio aconselhou-a a deixar a declaração a cargo de D. Pedro. Escreveu imediatamente a Pedro, que recebeu sua carta 5 dias depois, em 7 de setembro.
“Pedro, o Brasil parece um vulcão. O parlamento ordena sua partida imediata, pretendendo ameaçá-lo e humilhá-lo. O Conselho de Estado pede que você fique. (…) O Brasil exige que você seja seu monarca. A maçã está madura; colha-a agora. Pedro, este é o momento mais importante de sua vida. Você terá o apoio do Brasil inteiro, e contra a vontade do povo brasileiro os soldados portugueses não poderão fazer nada.”

Juramento Imperatriz Leopoldina à Constituição do Brasil, 1824.
A imperatriz do Brasil, trabalhou incansavelmente com os ministros para o aprimoramento da nova constituição brasileira e na elaboração da bandeira. Nascia o Império do Brasil, em tons de amarelo-Habsburgo e verde-Bragança.

Bandeira e pavilhão brasileiros, de Jean-Baptiste Debret.
Em dezembro de 1826, em decorrência de mais um aborto e complicações de saúde, Leopoldina, doce anjo-mulher, desencarna aos 29 anos, dando um fim precoce a sua elevada vida missionária. Após sua morte, multidões cercaram a Quinta da Boa Vista. Conta-se que os negros andaram por muitos dias pelas ruas, temendo o futuro, agora que sua protetora, tida por todos como “Mãe do Brasil”, havia partido.

D. Pedro II, tinha apenas 1 ano de idade quando perdeu a mãe.
Levantemos o véu que encobre a verdade, reconhecendo e honrando o papel protagonista de tão forte mulher, que em sua breve passagem pela terra marcou com inteligente dedicação e amor incondicional a estrutura social, cultural, científica e política brasileiras.
Leopoldina, mãe querida, que seu amor nos auxilie nesse fundamental processo de transição para que possamos, um dia, alcançar a tão almejada emancipação do povo brasileiro.
Quer saber mais? Recomendo:
– “Dona Leopoldina – uma Habsburgo no trono brasileiro”. KAISER, Gloria.
– “Correspondências entre Maria Graham e a Imperatriz Dona Leopoldina “. JACOBINA, Américo (tradução).
– “Leopoldina – Uma vida pela Independência”. VON SASS, Roselis.